Piquinho 2023

Foi uma viagem de última hora. Conheço bem São Miguel e fico sempre encantada a cada visita, mas a ilha do Pico foi uma estreia. E marcou-me também pela aventura da subida ao Piquinho. Inesperada, como muitas das coisas boas da vida. 

Sou pouco imaginativa no que toca a sair da minha zona de conforto e portanto não me passou pela cabeça subir 8 quilómetros pela madrugada até ao ponto mais alto de Portugal. Mas, a minha companhia ‘especial’ desafiou-me a fazê-lo. Achei que seria um momento especial para os dois, por isso queria ir! 

Por entre a visita às vinhas, as petiscadas de peixe e lapas, a contemplação do mar e do triângulo do alto dos miradouros da ilha e o mergulho nas águas frias das piscinas naturais, houve tempo para me focar na subida ao ponto mais alto de Portugal, a 2351 metros de altitude.

 

 

O encontro à 1h30 da madrugada na Casa da Montanha foi o ponto de partida. Antes quis ler sobre a experiência de outros na caminhada. Quais seriam as dificuldades que poderia enfrentar. O que deveria vestir, que mantimentos colocaria na mochila. E cheguei à conclusão que cada experiência é diferente e individual de acordo com as expetativas que alimentamos. Mas é certo que em comum, todos falavam da dificuldade na descida.

Eu por já ir a medo não achei, no geral, assim tão difícil. 

A subida foi relativamente rápida. Com três paragens curtas, bem controladas pelo Renato Goulart ( o nosso guia ) para renovar o fôlego e apreciar as estrelas. Em três horas e meia chegámos à cratera. Nesse ponto encostamos os bastões e trepámos pelas pedras até ao Piquinho. A escuridão e o ritmo da caminhada ( que quis manter em todo o percurso para não me afastar do grupo e não dar parte fraca! ) não me deixaram ter a noção da inclinação do terreno e de quão alto estava ( caso contrário acho que teria desistido! ).

 

 

Chegámos cedo para o espetáculo que veríamos de ‘camarote’, o nascer do sol. Mantivemo-nos quentes com o vapor do vulcão que emanava por entre as pedras, protegidos do vento no ponto mais abrigado do cume. Fomos munidos de abrigos para manter as pernas aquecidas e o chá ( e o biscoito! ) que o Renato nos ofereceu começou por nos aquecer também a alma e a preparar-nos para o que se seguia. O esplendor do sol avermelhado a imergir na escuridão. 

 

 

O dia foi clareando e a minha noção da altitude também. O que não me deixou desfrutar com tranquilidade dos instantes que nos restavam ali. Na minha cabeça, só pensava ‘ como vou sair daqui?! ‘. Mas estava por minha conta. Ninguém me viria buscar. Nem havia um elevador mágico até à Casa da Montanha, por isso o melhor que tinha a fazer era acalmar-me, controlar o medo e preparar-me para dar o meu melhor nas próximas quatro ou cinco horas de caminhada. 

 

 

O Renato insistiu para me colocar em alguns ‘pontos fotográficos’ estratégicos. E tranquilizou-me ao dizer que a descida ( sobretudo do Piquinho até à cratera ) seria mais fácil do que parecia à partida.

Eu não pensei muito mais nisso, simplesmente fui. 

De repente já estava na cratera a agarrar no meu bastão e a seguir caminho. Pedra a pedra, de frente para a descida ( o Renato não permitiu que fosse ‘ de rabo ‘ ou sequer de costas para o caminho ). Só tinha de pisar a rocha! E ter atenção às pedras soltas ( que são muito perigosas para um ‘ pé em falso ‘ numa ravina ) e às descidas em que colocaríamos os bastões numa só mão e com a outra nos agarraríamos à pedra para nos apoiarmos.

 

 

As poucas paragens que fizemos não foram benéficas. Perdi o ritmo da descida e começava a sentir o cansaço e alguma dor nas pernas. Mas precisava de beber água, de comer algo ( e de fazer xixi algures por ali! ). O guia prontamente nos apressava e retorquia que o ‘ ai ui ‘ não era para li. 

A ilusão ótica fazia-me crer que a Casa da Montanha estava bem perto! Mas faltava sempre mais um esforço. Mais uns quilómetros e horas de caminhada. 

Nos metros finais a sensação de prova superada era evidente nos nossos sorrisos. Chegámos! Mais de dez horas depois. E que incrível foi!

Cá em baixo ao olhar novamente para a montanha estava incrédula. Eu estive ali, no pico da montanha. Como é que eu fiz isso?!  

 

 

Guia Renato Goulart @experience2351

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Iva Lamarão

Iva Lamarão

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