Quando falamos de doença do sono, pensamos logo à partida em distúrbio do sono. E em dificuldades relacionas ao sono.
Os sintomas costumam variar muito de um distúrbio para o outro, como dificuldade para adormecer, no caso de insónia, ou comportamentos anormais durante o sono, como levantar da cama e caminhar, no caso de sonambulismo.
Em Portugal, de acordo com os resultados obtidos em alguns estudos, 28,1% da população com mais 18 anos de idade sofre de sintomas de insónia, pelo menos três noites por semana.
A insónia é o distúrbio do sono mais frequente no adulto e associa-se a importantes consequências, como o aumento da mortalidade causada por doenças cardiovasculares, distúrbios psiquiátricos, acidentes e o absentismo laboral.
Novos dados evidenciam que a doença do sono não é apenas um distúrbio do sono mas uma doença infecciosa letal em africa. Ameaça dezenas de milhões de pessoas nos países da África subsariana e é transmitida pela picada da mosca tsé-tsé infetada com o parasita ‘ Trypanosoma brucei ‘.
O estudo conta com uma equipa internacional de investigadores que inclui a portuguesa Luísa Figueiredo.
Segundo os investigadores, a doença do sono resulta de um distúrbio do ritmo circadiano, causado pela aceleração dos relógios biológicos que controlam diversas funções vitais, além do sono.
Todos nós temos um relógio interno que permite que o nosso organismo saiba que “horas são”, mesmo sem olharmos para o relógio. Quando viajamos para países com uma grande diferença horária da origem, ficamos com “jet lag” precisamente porque o nosso corpo julga que estamos a uma determinada hora do dia, mas o relógio do destino indica outra hora muito diferente. O relógio interno, chamado também relógio circadiano, permite aos organismos estarem ajustados e anteciparem variações diurnas que acontecem a cada 24 horas.
O trabalho de investigação resultou de uma colaboração entre o laboratório da ciência portuguesa e do investigador Joseph Takahashi, da Universidade de Southestern nos Estados Unidos. E revela que o relógio biológico dos ratinhos infetados com o parasita ‘ Trypanosoma brucei ‘ avança mais rapidamente o que leva a uma inversão dos ciclos do sono e a uma anormalidade hormonal e de temperatura corporal, semelhante ao que observa com os doentes com doença do sono .
O artigo, publicado na revista Nature Microbiology, evidencia que os parasitas vão modificando ligeiramente a sua composição e as suas funções consoante a hora do dia. Estas alterações são altamente previsíveis e repetem-se todos os dias. Uma das consequências é que os parasitas são mais sensíveis ao tratamento com um certo fármaco durante a parte da tarde do que de manhã
De acordo com Luísa Figueiredo será necessário perceber o que altera o ritmo do relógio biologico na doença do sono. Será uma secreção do parasita ou uma molécula produzida pelo hospedeiro em resposta à infeção.
A possível descoberta dos genes do relógio biológico poderá, de acordo com os investigadores, potencialmente bloquear os seus efeitos e ajudar a desenvolver novos tratamentos, alternativos aos atuais à base de compostos de arsénio que são tóxicos e fatais para os doentes.
Fontes
https://imm.medicina.ulisboa.pt/pt/imm-lisboa/noticias/arquivo/luisa-figueiredo-lab-faz-descoberta-inedita-sobre-parasita-que-provoca-doenca-do-sono/